Fernando Miranda está de volta à Nit Ultra Run

O tradutor Fernando Miranda estreou em ultramaratonas na Nit Ultra Run de 2017.  Correu 83K em 12 horas e se apaixonou pelas longas distâncias. Desde então correu 10 ultramaratonas, tendo como melhor resultado numa prova de 12 horas, a marca de 115Km, o que o coloca como um dos favoritos para a edição de 2019.

Aos 39 anos, Fernando é formado em Letras e doutor em Literatura Comparada pela UFF, local da primeira Nit Ultra Run. Confira!

 

O começo…

Comecei a correr em 1999, na Meia Maratona do Rio de Janeiro, sem ter treinado direito, sem usar tênis adequado…enfim. O típico início do leigo que vê o anúncio na TV e se empolga. Na chegada, recebi o panfleto de uma corrida de 10K em Nova Friburgo, com informações sobre ônibus para a prova, inscrição e hospedagem. Liguei para a responsável e fui. No mesmo ano, viajei com o grupo dela para a São Silvestre, já tendo um treinador, Djalma Paim, que dava treinos na Praça Paris, no Rio. Tive uma fase no meio-fundo (800m e 1500m), mas por questões burocráticas só pude competir três vezes, todas em São Paulo. Em 2005, comecei a nadar e acabei no triathlon, sendo treinado pelo Rodrigo Ferreira, de Niterói. Em 2006, após não ter conseguido dinheiro para fazer o meio ironman de Pirassununga, desanimei e larguei tudo. Engordei 30kg e voltei a correr, bem devagar, em 2013, justamente na Meia Maratona do Rio.

 

As ultras…

Entre 2013 e 2016, eu treinava mais para perder peso. Estava difícil voltar porque eu era um ‘ex- atleta frustrado’. Em setembro de 2016 quebrei o pé jogando basquete e fiquei dois meses parado. Foi quando aconteceram a Paralimpíadas, no Rio de Janeiro. Eu fui a alguns eventos – de bota e muletas. Vendo aquele esforço de pessoas com dificuldades muito maiores do que a minha, senti o impacto de que, na verdade, eu só não voltava a competir forte porque eu ficava arrumando desculpas.

Em janeiro de 2017 vi o anúncio da Nit Ultra Run. A prova seria no campus da UFF, onde fiz minha graduação, onde dei muitos tiros na pista de carvão com meu treinador de triathlon. E para completar, a prova seria 4 de março, aniversário de uma ex-namorada que eu conheci justamente na UFF. Fazia dez anos do fim do namoro e esse dado extraesportivo, por incrível que pareça, pesou na minha decisão de me inscrever na prova.

O problema é que eu não estava treinado para isso nem teria muito tempo de preparação. Passei cinco semanas rodando na esteira, aumentado o tempo a cada semana. Contei com o apoio de dois amigos na prova, mas acho que meu planejamento foi todo errado. Consegui concluir, com 83km. E assim começou minha história com a ultramaratona.

 

Os treinos…

Hoje eu sou treinado por Urbano Cracco, de Piracicaba. São quatro treinos de corrida por semana, com muito trabalho de intensidade (fartlek, intervalados, ritmos de 10km) e o longo no fim de semana. Duas vezes por semana faço musculação e outras duas vezes, natação em ritmo regenerativo (em torno de 2000m). Procuramos sempre trabalhar de acordo com a próxima competição, ou seja, se é uma prova como a Nit Ultra Run, em circuito de 750m, procuro fazer os longos em algum local semelhante. Se é uma prova no sertão alagoano, cuja maior dificuldade é o calor, procuro simular isso, e assim por diante.

 

A superação…

Essa é uma pergunta que as pessoas sempre fazem, e acho que nunca tenho uma resposta convincente. Normalmente digo ‘superação’, ‘vencer os limites’, ‘a adrenalina do desafio’… Mas a verdade é que eu não sei dizer (risos). Desde criança pratico esportes, acompanho – quase todos – os esportes, tenho inúmeras revistas, vários livros, sobre tudo quanto é esporte, não apenas futebol e corrida.

Sobre as provas, hoje em dia monto meu calendário de acordo com os objetivos, e procuro provas bem organizadas, que tenham boa estrutura e sejam acessíveis para mim. Por exemplo: eu gostaria de correr a BR135 ou a Caminhos de Rosa, mas eu não tenho como organizar uma equipe de apoio. Então, as provas de circuito me favorecem. Para 2019, a ideia é me concentrar nas provas de 12 horas e de distâncias até 100km.

 

A Nit Ultra Run…

Como disse, foi minha estreia em ultramaratona, em 2017, e isso sempre ficará marcado para mim. Posso correr 1000 ultras, a primeira sempre terá sido, claro, a Nit Ultra Run. Foi uma experiência muito positiva, não apenas no âmbito esportivo, mas no ambiente de companheirismo que, depois, eu veria ser o ambiente que predomina no mundo da ultramaratona, o que me dá enorme satisfação. Somos competidores, queremos melhorar nossas marcas, queremos vencer, mas isso não implica não ter respeito, não ajudar um ao outro. Outra coisa que me chama atenção é que os organizadores costumam ser pessoas mais acessíveis, o que nem sempre é o caso de provas mais curtas. Lembro que o Marcelino estava lá no congresso técnico, estava lá a noite toda incentivando os atletas. Às vezes ele mesmo dava um copo de água, uma coca-cola. Esse ambiente saudável sem dúvida conta muito na hora de escolher uma prova para o calendário.

 

Em 2019…

Por mim, correria a Nit Ultra Run todos os anos. Em 2018 não pude estar, porque ela foi apenas uma semana antes de uma prova de 85km, na qual eu já estava inscrito, no sertão de Alagoas. Em 2019 a ideia é manter a melhora que obtive treinando com o Urbano Cracco e a Nit Ultra Run é a prova de abertura da temporada.

Se em 2017 foi minha primeira ultra e corri 83km, agora será minha décima primeira, e meu melhor resultado nas 12 horas é 115km, conseguido em Piracicaba, em setembro. Tenho muito o que aprender ainda, e estar na Nit Ultra Run, dividindo a pista com atletas bem mais experientes que eu, é uma grande oportunidade.

       

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